O projeto e experiência surgiu e foi realizada primeiramente pela Diocese de Barretos interior de São Paulo, que posteriormente culminou na publicação da coleção de subsídios "O Caminho" direcionado para crianças e adolescentes. O itinerário teve como base a adaptação do RICA à catequese infantil e desenvolve uma das propostas tão sonhadas pelo Documento 26 da CNBB (cf. n. 136; 137; 224 a 228), que focalizam a unidade entre Catequese e Liturgia. Os encontros catequéticos apresentam uma estrutura simples e funcional; de modo particular a novidade da "oração final" que acontecerá ao redor da mesa da Palavra e rezada pelo catequista de forma presidencial e acompanhada interiormente pelos catequizandos, isto, prepara-os para a oração litúrgica. A metodologia participativa empregada em cada encontro oferece possibilidade aos catequizandos de participarem ativamente, isto é, escutar, ver, atender, sintonizar, orar, cantar, elaborar preces, favorecendo assim a introdução dos mesmos à participação litúrgica.
O texto focaliza uma catequese querigmática, portanto bíblica: a fonte na qual a catequese busca a sua mensagem é a Palavra de Deus proporcionando um conhecimento gradativo de Jesus Cristo, sua vida terrena, sua missão salvífica e a proposta do Reino, podendo despertar o catequizando para o discipulado que é um dom destinado a crescer, dentro de um processo de amadurecimento da fé, em uma catequese permanente. A proposta pedagógica e mistagógica oferecidas neste capítulo resgatam a mentalidade catecumenal prevista pelo RICA, que é revolucionária por trazer consigo, a concepção mistérica da liturgia, tornando a catequese experiencial, celebrativa e orante. Dá importância aos símbolos (temos uma riqueza em termos de quantidade e significados) e aos progressivos e graduais passos na fé, assumindo assim as características de um processo iniciático. A proposta é provocativa e, para atingir seus objetivos, deverá desinstalar a metodologia rotineira e tão utilizada ainda hoje por muitos catequistas que não têm acompanhado o anseio da Igreja manifestado em seu conjunto de experiências e documentos.
Sendo um subsídio de inspiração catecumenal, O CAMINHO evita as divisões do processo catequético, agregando as diversas fases da catequese tradicional (catequese de eucaristia, perseverança e crisma), em um único itinerário com começo, meio e fim, onde uma etapa pressupõe a outra, numa reflexão gradativa em que todos os envolvidos desde a primeira etapa a última, tem consciência do todo. São sete etapas (divididas em eucaristia e crisma), permeado por diversas celebrações dos quais são refletidos os seguintes temas:
Eucaristia
As quatro primeiras seguem o Calendário Litúrgico iniciando no Tempo do Advento.
Na 1ª Etapa (Vol. 1): Temos um enfoque no anúncio de Jesus Cristo, na vivência do Ano Litúrgico e na apresentação e entrega do Livro Sagrado.
Na 2ª Etapa (Vol. 2): O tema principal é a doutrina da Igreja, apresentada através dos artigos da Profissão de Fé, com celebrações de entrega e recitação do Credo.
Na 3ª Etapa (Vol. 3): O tema a ser trabalhado é a vida de oração, onde a base de reflexão será a oração do Pai-Nosso, constando das celebrações de entrega e recitação do Pai Nosso.
Na 4ª Etapa (Vol. 4): Serão trabalhados os sete sacramentos da Igreja, de modo especial os sacramentos da iniciação cristã, onde os catequizandos receberão pela primeira vez a Eucaristia.
Crisma
As três últimas seguem o ciclo da Páscoa
Na 1ª Etapa (Vol. 1): Temos um enfoque no anúncio de Jesus Cristo, na vivência do Ano Litúrgico e na apresentação e entrega do Livro Sagrado.
Na 2ª Etapa (Vol. 2): Propõe temas essenciais à adolescência, visando promover a descoberta da própria vocação e do seu lugar na Igreja. Apresenta ainda, sugestões de temas a serem trabalhados com as famílias e os futuros padrinhos de crisma.
Na 3ª Etapa (Vol. 3): A terceira etapa propõe um engajamento pastoral a partir de um estágio. Nesta etapa, os encontros acontecerão uma vez por mês, com o acompanhamento de um catequista, quando se realizarão momentos de partilha e orientações.
O livro do Catequizando: Um Diário!
Buscando mais uma vez desvincular a catequese das práticas escolares, foi pensado em um ?diário?, onde nos encontros, os catequizandos refletirão os temas em nível comunitário e eclesial, e o diário lhes ajudará a meditar qual a sua postura diante dos temas em nível pessoal.
Subsídios "O Caminho"
para catequese de crianças e adolescentes
Muitas foram as fontes e caminhos que iluminaram o projeto de uma nova proposta catequética. Em primeiro lugar a orientação dos documentos da Igreja e o processo catecumenal da Igreja Primitiva, já mencionados nesta obra; o método da lectio divina com toda a sua metodologia ou passos (leitura, meditação, oração e contemplação); a psicopedagogia das idades que diz que o crescimento da criança não acontece em linha reta, mas por períodos orientando assim, o que é comum em cada faixa etária, facilitando a elaboração e aplicação dos conteúdos; ainda, como também já citadas inúmeras vezes, a aproximação entre catequese e liturgia, pois as duas são funções da única missão evangelizadora e pastoral da Igreja, a catequese como educação da fé e a liturgia como celebração da fé; a adaptação do RICA, tendo em vista uma catequese mais ritual e celebrativa, introduzindo e valorizando os ritos e símbolos da Igreja (mistagogia); e, por fim, buscamos conhecer as diversas experiências e propostas surgidas nas diversas comunidades, paróquias e dioceses.
A proposta e seu desenvolvimento
Falar de uma proposta de adaptação e aplicação do RICA à catequese é pensar não só nas celebrações rituais por ele previstos, mas também em um programa de conteúdos e temas a serem trabalhados durante todo o processo. É preciso ter bem claro, que a iniciação é um processo de transmissão da fé, e como afirma Taborda:
Não se chega à fé de um dia para outro. Há todo um processo de maturação, para que ela venha a penetrar as diversas dimensões do ser humano e para que a pessoa, por sua vez, a descubra e a viva em múltiplas feições, pois a fé tem muitas facetas que só se vão encontrando à medida em que se vive.
TABORDA, Francisco. Nas fontes da Vida Cristã. São Paulo: Loyola, 2001. p. 39
A iniciação, portanto, deve permitir "?"superar um intelectualismo muito comum na compreensão da fé, pois a iniciação não é só uma informação sobre determinadas verdades ou costumes, mas assimilação pessoal da verdade e introdução em uma prática"? "(Ibid.). É preciso então um itinerário catequético que leve à aceitação de uma mensagem, que introduza nos costumes da comunidade eclesial, que contemple reflexões sobre a doutrina e teologia litúrgica, fazendo com que as celebrações propostas pelo RICA não se tornem algo estranho, mas a complementação e coroação de cada etapa.
Para elaborar este itinerário, foi preciso estabelecer primeiro, a faixa etária dos catequizandos, para que todo conteúdo fosse pensado de modo a atender a realidade de cada grupo. Assim, definiu-se que a catequese se iniciaria com crianças que tivessem sete anos de idade, ou que estivessem concluindo a segunda série do ensino fundamental, portanto alfabetizados. Nessa idade, as crianças estão mais dóceis e receptivas aos conteúdos refletidos tendo uma carga de influências externas menor (televisão, internet etc.). Além disso, a catequese conseguirá uma maior aproximação com a família dos catequizandos, pois as crianças nessa faixa etária são mais dependentes de seus pais.
Por se tratar de crianças, é preciso destrinchar os conteúdos, trabalhá-los de maneira lúdica e abordar os vários temas diversas vezes em óticas diferentes. Assim, depois de um breve estudo previram-se quatros etapas (anos) de catequese em preparação à "primeira eucaristia"?" e três etapas para o sacramento da Crisma. A primeira motivação para o número de etapas foi não só em função dos conteúdos mínimos a serem abordados na catequese, mas, sobretudo fazer com que os catequizandos e suas famílias criassem vínculo com a comunidade e vivenciassem a dinâmica eclesial. Ainda, para evitar as divisões do processo, agregando as diversas fases da catequese tradicional (pré-catequese, catequese de eucaristia, perseverança e crisma), em um único itinerário com começo, meio e fim, onde uma etapa pressupõe a outra, numa reflexão gradativa em que todos os envolvidos desde a primeira etapa a última, tenham consciência do todo.
A mudança do calendário de atividades
Diante disso, buscamos maior contato e vivência dos catequizandos com o calendário próprio da Igreja e a espiritualidade de cada tempo, desvinculando a catequese do calendário escolar, propomos que a catequese de eucaristia siga o calendário litúrgico, iniciando na primeira semana do Advento e encerrado com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo e para a catequese crismal, iniciando no primeiro domingo da Quaresma e encerrando no tempo Pascal. Com isso, colocamos em prática o que é pedido pelo RICA ao tratar sobre o tempo do catecumenato:
A catequese, ministrada pelos sacerdotes, diáconos ou catequistas e outros leigos, distribuída em etapas e integralmente transmitida, relacionada com o ano litúrgico e apoiada nas celebrações da Palavra, leva os catecúmenos não só ao conhecimento dos dogmas e preceitos, com à íntima percepção do mistério da salvação de que desejam participar.
RICA - Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, n. 19.Nas fontes da Vida Cristã. São Paulo: Loyola, 2001. p. 39
Isto ajudará os catequizandos a aprenderem na prática, toda dinâmica pedagógica e mistagógica do Ano Litúrgico. A catequese durante as férias escolares (tempo do Advento, por exemplo), ensinará aos catequizandos que não se tira férias de Deus e da Igreja. Os encontros catequéticos estarão intimamente ligados com o Ano Litúrgico, assim é indispensável dar-se grande atenção ao Calendário Litúrgico em percurso.
As salas para o encontro de catequese
Ao compreendermos a concepção de "espaço" para a arquitetura, entenderemos melhor a importância do ambiente para a catequese: Para a arquitetura, espaço é um seguimento do ambiente concebido para definir uma estrutura física, definir uma área para atividades humanas (habitar, trabalhar, recrear, orar etc.), e para se relacionar com o outro. Esses espaços podem ser constituídos por ?espaço físico? e ?espaço existencial ou humano?. O espaço físico é definido materialmente com dimensões definidas como largura, altura, comprimento, adequadas às atividades humanas. Já o espaço existencial é a imagem que cada usuário faz quando o utiliza, resultado do meio em que vive, tanto psicológico (sensações do usuário, bem-estar), quanto formal (linguagem arquitetônica, estrutura física que informa o tipo de uso e ações suportáveis para aquele espaço) e social (que gera níveis de relações entre os usuários).
Nesta concepção, o espaço físico e sua organização fazem os catequizandos criarem uma imagem daquele espaço, o qual determinará o seu comportamento. Portanto, ter espaço distinto do espaço escolar tradicional ajudará o catequizando a se portar de maneira diferente, fazendo com que, logo no primeiro dia, perceba que precisará ter uma postura diferente da que costuma ter na escola ou em outros locais. O modelo das novas salas de catequese foi inspirado na prática catequética da Catedral de Santa Teresa, em Caxias do Sul, onde propuseram um espaço estruturado em duas mesas: A mesa da Palavra e a mesa da catequese, que optamos por chamar de ?mesa da partilha?. Iluminados pela estrutura e ambiente próprio de nossas celebrações litúrgicas, a mudança nos faz sair do esquema escolar para um ambiente mais celebrativo, buscando uma estreita ligação entre catequese e liturgia em encontros dinâmicos e celebrativos.
A mesa da Palavra consiste em organizar um ambão ou uma pequena mesa para colocar a Bíblia e fazer a sua leitura, tendo uma vela acesa ao seu lado e ainda usar toalhas com a cor do Tempo Litúrgico em curso. Ao redor dessa mesa, se quer dar destaque e valorizar a leitura da Bíblia, mostrando que não é apenas um livro a mais para ser estudado, como também orientar e fazer a experiência de acolhida da Palavra de um Deus que nos fala. O fato de mobilizar os catequizandos a ir até essa mesa, colocar-se de pé ao seu redor, trocar a toalha de acordo com o tempo litúrgico, solenizando a leitura bíblica, incentivando a sua escuta, possibilita revelar através dos gestos e posturas o valor e importância que lhe damos em nossa comunidade Igreja. Além de remeter os catequizandos ao ambiente celebrativo da Eucaristia.
Ao redor da mesa da Palavra, quer-se educar os catequizandos, de que ali é o local da oração, do silêncio e da escuta. É o lugar onde farão o momento de "recordação da vida", partilhando acontecimentos marcantes da sua semana, a vida da comunidade e de toda a sociedade. É o local da oração inicial, que deverá ser feita de maneira ritual. Não um simples momento de oração de fórmulas decoradas, mas com uma motivação espontânea que venha ao encontro do que foi dito na recordação da vida e com a temática do encontro do dia. Ainda, por exemplo, motivando os catequizandos a traçarem o sinal da cruz na fronte com água benta durante o tempo pascal, cantando um refrão meditativo para o acendimento da vela, ou ainda aclamando o Evangelho com um canto antes de sua proclamação e ao seu termino, passar para que todos os catequizandos beijem o Livro Sagrado.
Ao proclamar os textos bíblicos nesse espaço, além de valorizar a Bíblia como Palavra de Deus, Livro Sagrado de nossa fé, quer-se educar os catequizandos à escuta e ao silêncio, pois o catequista ao ler o texto várias vezes, numa espécie de leitura orante, fará o catequizando se familiarizar com os termos e vocabulários bíblicos. O silêncio fará com que prestem atenção e escutem o que está sendo lido e assim participem na mesa da partilha ao ser reconstruído o texto que ouviram. Ainda ao redor da mesa da Palavra, será realizada a oração final do encontro, onde os catequizandos serão incentivados a formularem preces, a guardarem uma palavra, frase ou gesto como compromisso da semana e ainda receberão a imposição das mãos dos catequistas que os despedirá com uma oração.
A mesa da partilha constitui-se de uma grande mesa com várias cadeiras ao seu redor, é o local onde os catequizandos irão buscar compreender com a ajuda do catequista o sentido e significado da Palavra em seu contexto e para suas vidas. Ao redor da mesa, integrados chegarão ao seu entendimento ao reconstruir o texto bíblico, dialogar, ouvir histórias, contemplar os símbolos presentes em cada encontro e nos textos bíblicos e, também, realizar diversas atividades. Nesta mesa, recordando o costume antigo das famílias de tomar a refeição, onde catequista e catequizandos saborearão o alimento da Palavra que dá vida e sacia toda sede.
Ao redor dessa mesa, o texto bíblico será reconstruído, ou seja, os catequizandos serão estimulados a partilhar quem são os personagens e quais os seus sentimentos, o ambiente em que se passa o texto e o contexto em que acontece. Pela pouca idade, com certeza os catequizandos terão dificuldade de entender o texto e sua mensagem, a reconstrução do texto, é um incentivo para prestarem atenção na leitura e, além de se familiarizarem com os termos e vocábulo bíblico, conhecerem seus personagens. As histórias, dinâmicas e atividades que seguirão durante o encontro, ajudarão os catequizandos a compreender a mensagem. Ainda ao redor da mesa da partilha, poderão ser utilizados muitos outros recursos didáticos, em vista da pedagogia que nos ensina que as pessoas aprendem de maneiras diferentes (visuais, auditivas e sinestésicas). Os catequizandos poderão ser iniciados nos ritos e símbolos, ou seja, a catequese criará uma sensibilidade nos catequizandos para aos poucos, receberem as chaves e os códigos para decifrarem as ações rituais. Por exemplo, na semana que antecede a Quarta-Feira de Cinzas, poderá levar-se para a catequese, ramos verdes, secos e as cinzas e explicar sua origem e significado e na próxima semana a catequese dá lugar à participação da celebração da Quarta-Feira de Cinzas. Assim, os elementos rituais e simbólicos trabalhados na catequese, serão facilmente identificados na celebração litúrgica. Enfim, muitas outras atividades poderão ser realizadas, com a ajuda de figuras, imagens, testemunhos, escuta, reflexão e meditação.
Os novos espaços destinados à catequese propostos buscam, portanto, mostrar que nossos catequistas não são professores, mas mistagogos que guiam os catequizandos para o Mistério, fazendo que tenham uma experiência viva e pessoal de Jesus Cristo. Num clima alegre e acolhedor, a Palavra se atualiza e se transforma em oração e gestos concretos.
A Palavra de Deus, fonte da catequese
O Concílio Vaticano II, através da Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a revelação divina, afirmou no n. 21, que "a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como também o próprio corpo do Senhor; sobretudo na sagrada liturgia, nunca deixou de tomar e distribuir aos fiéis, da mesa tanto da palavra de Deus como do corpo de Cristo, o pão da vida". Com esta proclamação o Concílio "não só valorizou a Palavra de Deus, como também estimulou o acesso pessoal e comunitário ao Livro Sagrado" (Estudos da CNBB 86. p. 7), que, até então, se reduzia à leitura em latim e em voz baixa pelo padre nas celebrações e seu difícil acesso pelos fiéis para leitura pessoal e comunitária. Hoje, pode-se afirmar que a Bíblia está bem presente nas atividades da Igreja e de modo especial, na mão dos fiéis para leitura e meditação tanto pessoal, quanto comunitária.
Porém, ainda hoje percebe-se, a dificuldade que as pessoas e comunidades têm em entender e interpretar as passagens da Sagrada Escritura. E mais ainda, em atualizar sua mensagem para sua realidade pessoal e comunitária. Muitas comunidades correm o risco de cair numa interpretação superficial e/ou fundamentalista. A Igreja, portanto, com a missão de dar as chaves para a sadia leitura e interpretação dos textos bíblicos, encontra na catequese, um importante e fundamental espaço. Na catequese, encontra-se um lugar privilegiado para a iniciação à Bíblia, pois na Palavra de Deus a catequese encontra sua mensagem (cf. DNC, n. 106).
Um momento importante da animação pastoral da Igreja, onde se pode sapientemente descobrir a centralidade da Palavra de Deus, é a catequese, que, nas suas diversas formas e fases, sempre deve acompanhar o Povo de Deus. O encontro dos discípulos de Emaús com Jesus, descrito pelo evangelista Lucas (cf. L?c 24, 13-35), representa em certo sentido o modelo de uma catequese em cujo centro está a ?explicação das Escrituras?, que somente Cristo é capaz de dar (cf. L?c 24, 27-28), mostrando o seu cumprimento em Si mesmo. Assim, renasce a esperança, mais forte do que qualquer revés.
BENTO XVI Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini. n. 74
Podemos recorrer à passagem do Evangelho de Lucas (5,11) para exemplificar a força transformadora da Palavra. Jesus seguido por uma multidão que o comprimia, sobe em uma barca à beira do lago de Genesaré e desde ali ensina as multidões. O evangelho relata que os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes, portanto, não seguiam Jesus, pelo contrário, é Jesus que vê os barcos e vai ao encontro dos pescadores. Na reflexão sobre esta passagem, pode-se imaginar que Simão, um dos proprietários do barco, é pego de surpresa. Ele é obrigado a interromper seu serviço e a escutar Jesus que anuncia o Evangelho às multidões. Simão talvez, nem quisesse estar ali, mas por força maior é obrigado a permanecer e a escutar. Ao final do ensinamento Jesus diz a Simão: "Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca". Simão respondeu: "Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes" (Lc 5,4-5). E ao lançar as redes, qual a surpresa de Simão? Pegaram tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam. Simão, em princípio, questiona o pedido de Jesus em lançar as redes, não quer fazê-lo em um primeiro momento, já estava ali a ouvi-lo obrigado. Mas mesmo obrigado, Simão escuta as Palavras anunciadas por Jesus, e estas tocam Simão a ponto de reconhecer Jesus como "Mestre", uma pessoa diferente das demais. Então, não tanto por causa do pedido, mas sobretudo, pelas Palavras que Simão ouvira antes, ele lança as redes. O ensinamento de Jesus foi tão forte e com tamanha autoridade que transforma a vida de Simão = Pedro a ponto de largar tudo e seguir o Senhor. Antes do sinal (pesca milagrosa), veio a Palavra.
A Palavra de Deus toca no mais fundo do nosso ser, questiona-nos e provoca em nós uma reação, uma mudança de vida, uma conversão. Diante disso, é fundamental recorrer à prática de Jesus e seu exemplo no anúncio do Evangelho. Muitos jovens estarão na catequese, muitos pais estarão nas celebrações por obrigação, mas é importante sempre proclamar a Palavra, para que, através dela, Deus tomando a iniciativa, vá ao seu encontro e toque seus corações. Após o anúncio e do "terreno preparado", aí sim chega o momento de fazer que se aproximem dos textos na catequese, dando as chaves para entender e interpretar cada capítulo e versículo da Palavra de Deus.
Dentro de nossa proposta, a fonte e princípio gerador da temática de cada encontro catequético será a Sagrada Escritura, resgatando o antigo método usado pela patrística para compreender a Bíblia: a lectio divina.
Uma chave interpretativa, a fim de que cada cristão pudesse pessoalmente se achegar à Palavra de Deus contida nas Escrituras. Nas mãos do fiel não só foi colocada a Bíblia, mas com ela foi lhe dado também um instrumento que o tornou capaz de extrair das Escrituras o alimento necessário para sua vida de fé.
BOSELLI, Goffredo. O Sentido Espiritual da Liturgia. Brasília: Ed. CNBB, 2014. p. 10
Queremos com nossa proposta, não apenas um versículo bíblico perdido no meio do encontro, talvez apenas lido pelo catequista para fundamentar a temática refletida, mas realmente a Bíblia como o princípio e fundamento de todo encontro catequético, ajudando os catequizandos a desvendar e descobrir as maravilhas narradas em cada página, recuperando e ensinando o método da leitura orante.
Uma das formas mais valiosas de trato com a Bíblia é a lectio divina, que entre nós é conhecida como leitura orante, individual ou comunitária. Consiste na leitura de um trecho bíblico, repetida uma ou mais vezes, acompanhada de silêncios interiores, meditação e contemplação. É a prática do "Fala, Senhor, que o teu povo escuta!"" 1Sm 3,9
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB Diretório Nacional de Catequese
O papa Bento XVI, na exortação Apostólica Pós Sinodal sobre a Palavra na vida e na missão da Igreja, escreve sobre a leitura orante da Sagrada Escritura:
Nos documentos que prepararam e acompanharam o Sínodo, falou-se dos vários métodos para se abeirar, com fruto e na fé, das Sagradas Escrituras. Todavia prestou-se maior atenção à lectio divina, que "é verdadeiramente capaz não só de desvendar ao fiel o tesouro da Palavra de Deus, mas também de criar o encontro com Cristo, Palavra divina viva".
Como já dito, um espaço foi pensado na sala de encontro de catequese para valorizar a leitura, escuta e meditação da Palavra: "A mesa da Palavra" que na prática ajudará a ensinar a metodologia da Leitura Orante em seus quatro passos: Leitura, oração, meditação e contemplação. O contato direto e contínuo com a Sagrada Escritura e a progressiva consolidação da lectio divina demonstrará a possibilidade de educar os cristãos para beberem das fontes puras da fé (BOSELLI, 2014. p. 10).
Para que o catequista consiga ensinar e transmitir com fidelidade a mensagem da Sagrada Escritura, é preciso, pois, que ele a medite e atualize em sua vida. É preciso que a Palavra de Deus seja uma realidade constante em sua vida. Para isso, Ione Buyst traça algumas pistas que ajudarão na compreensão e transmissão da mensagem Sagrada: "é preciso levar em conta o livro todo, com sua história, seu autor, o tempo e as circunstância em que foi escrito. Se possível, recorra a um subsídio com alguma explicação sobre as leituras". As seguintes perguntas também podem ajudar:
Qual o contexto deste texto na Bíblia? (Onde e em que época foi escrito? Para quem foi escrito? Com que objetivo?). Em que parte do livro se encontra a passagem que será lida? Quais são os personagens que aparecem na passagem da leitura? (O que fazem? Por quê? Com que objetivo? Como se relacionam? O que sentem?) Em que ambiente está se passando? (no deserto? Na cidade? No meio da multidão?...) Qual o assunto ou a mensagem, ou a idéia principal do texto? Qual o gênero literário? (Carta? Norma jurídica? Oração? [...] Parábola? Provérbio? Hino? Exortação? Profecia? Acusação?...) Há palavras difíceis no texto? Use o dicionário. Não só o dicionário de português, mas também, conforme o caso, um dicionário bíblico. Tente perceber as várias partes da leitura (a introdução, o final, o ponto alto etc
BUYST, Ione. O ministério de leitor e salmistas. Paulinas. São Paulo, 2001. p. 9
As diversas celebrações também se tornam momentos privilegiados de contato e escuta da mensagem salvífica de Deus. Que os catequizandos no decorrer de todo o processo catequético aprendam a se alimentar da Palavra de Deus e através dela, encontrem-se com o Mistério que se fez carne e habitou entre nós. Que a catequese ajude a Bíblia a se tornar livro de cabeceira e companheiro inseparável de cada catequizando.
O itinerário celebrativo proposto pelo RICA exige uma catequese inculturada, de acordo com a realidade de cada comunidade, que prepare os catequizandos a bem celebrarem. Assim, o conteúdo de cada celebração do RICA torna-se uma guisa orientadora dos temas a serem abordados pela catequese. O Catecismo da Igreja Católica torna-se fonte e explicitação desde conteúdo: A profissão de fé, a vida de oração (Pai-nosso), os Sacramentos. Descrevemos a seguir, uma ideia geral do conteúdo que poderá ser abordado em cada etapa da catequese, tendo em vista as celebrações do RICA que serão adaptadas para cada momento.
Para a Iniciação à Eucaristia:
Para a catequese de Crisma:
Em todas as etapas, sugerimos ao menos duas celebrações presididas por leigos com o intuito de reunir catequizandos, pais, padrinhos de Batismo e comunidade. As celebrações são contadas como encontros da catequese, e para garantir uma maior participação, principalmente dos pais, sugere-se marcar no dia e horário favorável a todos, optando para o dia da semana e horário em que a comunidade costuma se reunir para o seu momento de oração e partilha. As celebrações deverão ser preparadas com antecedência, de preferência, com a ajuda das pessoas da comunidade acostumadas a se reunirem semanalmente. Escolher quem irá presidir, quem serão os leitores, o grupo de cantos, entre outros.
Estas celebrações têm o intuito além de aproximar catequizandos, pais e padrinhos da comunidade, de também sensibilizá-los, iniciando-os na ritualidade e nos elementos simbólicos. Esses momentos celebrativos, nada mais são, que celebrações da Palavra, em que inserimos algum elemento "temático". Por exemplo: na semana depois do domingo em que a Igreja faz memória ao Batismo do Senhor, sugerimos uma "celebração da água", no qual refletiremos sobre este tão rico elemento natural, usado por Jesus no sacramento do Batismo. Ainda durante o tempo quaresmal, sugerimos uma celebração penitencial não sacramental, presidida por leigos como propõe o Ritual da Penitência, fazendo que os participantes criem consciência do pecado e da misericórdia de Deus. Muitas outras celebrações são sugeridas de acordo com as temáticas refletidas nos encontros de catequese: "celebração da luz"; "celebração ecológica"; "celebração do pão", dentre outras. Ainda temos as grandes celebrações adaptadas do RICA e que marcam a conclusão de uma etapa e início de outra como veremos a seguir.
As celebrações adaptadas do RICA para a catequese infantil
No final de cada etapa dos encontros de iniciação à Eucaristia, propomos também celebrações inspiradas e adaptadas do RICA, as quais marcarão a conclusão de parte da caminhada e o início de uma nova etapa. São as grandes celebrações de entrega ou recitações. Ao final da primeira etapa, temos a "celebração de inscrição do Nome e entrega do Livro Sagrado". Esta celebração é uma adaptação do rito de entrada no catecumenato. Para esta celebração, o RICA orienta que: "depois da celebração do Rito, sejam oportunamente anotados em livro próprio, os nomes dos catecúmenos, com a indicação do ministro, dos introdutores e dia e lugar da admissão" (RICA, n. 17). Levando em conta que muitos catequizandos já são batizados, sugerimos que a comunidade tenha um livro que chamamos de "Livro de Registro dos Catequizandos", no qual poderá registrar o nome de todos os catequizandos, que concluíram a primeira etapa, dando o sentido de acolhida, de escolha, de eleição, além de ajudar na organização da catequese. A escolha do livro fica a critério de cada comunidade, podendo ser aqueles de capa preta comumente utilizado para redigir atas. Uma capa poderá ser confeccionada para valorizar o livro. Além dos nomes, outros dados poderão posteriormente ser registrados como a data do batismo, as datas de recebimento e recitação do Credo e do Pai-Nosso, da primeira comunhão, entre outras que a comunidade achar importante registrar. Para a celebração proposta, neste livro já estejam escritos os nomes dos catequizandos batizados e espaço reservado para anotação dos nomes dos catequizandos que receberão o batismo no decorrer do processo catequético. Esta celebração que marcará o término da primeira etapa da catequese, consta do chamado e inscrição dos nomes no livro do catequizando, diferenciando os catequizandos batizados dos que ainda não foram batizados, entrega da bíblia e uma insígnia (cordão com uma cruz ou crucifixo), sinal de sua adesão ao processo catequético e ao seguimento de Jesus Cristo.
No início da segunda e terceira etapa, em um dos domingos do Tempo do Advento, temos a celebração de entrega do Credo e da Oração do Pai-nosso impresso. E no final, após uma caminhada de reflexão e conhecimento de cada artigo da profissão de fé e de cada uma das petições da oração do Senhor, os catequizandos da segunda etapa irão recitar solenemente diante de toda a comunidade reunida, o Credo e os catequizandos da terceira etapa, o Pai-Nosso. Olhando a tradição da Igreja, as entregas feitas pelos Santos Padres, sempre foram verbais, como relata Ambrósio ao explicar a entrega do Símbolo:
Quero avisá-los bem o seguinte: o símbolo não deve ser escrito. Deveis repeti-lo, mas ninguém o escreva. Por que motivo? Foi-nos transmitido que não deveria ser escrito. O que fazer então? Retê-lo de cor. Tu, porém, me dizes: "Como é possível retê-lo sem escrevê-lo?" Pode-se retê-lo melhor se não se escreve. Por que razão? E o seguinte. O que escreves, seguro de que o relerás, não te aplicarás em examiná-lo pela meditação diária O que, porém, não escreves terás medo de esquecê-lo e daí o repassarás todo dia. Isso é uma grande segurança.
AMBRÓSIO DE MILÃO. Explicação do Símbolo Coleção Patrística. v.5. São Paulo: Paulus, 1996. p. 28
Para Ambrósio, a não escrita do Símbolo tinha, sobretudo, uma função didática. Os catecúmenos ao escutarem o Símbolo deveriam prestar atenção e com cuidado, reter o máximo possível das verdades da fé. Lembremos, porém, que esta prática dos Santos Padres é para adultos. No nosso caso, ao fazermos a entrega às crianças, optamos também, por uma função didática, de lhes entregar o credo e o Pai-nosso impressos, cientes de que nessa idade, não estão preparados para assimilar todo o conteúdo expresso e retê-los de cor. Assim adaptamos para a segunda e terceira etapas as celebrações de entrega, colocando-as num dos domingos do tempo do Advento e as recitações do Credo e do Pai-nosso, no domingo de Cristo Rei, pois inseridas nas celebrações dominicais esperamos envolver toda a comunidade no processo de Iniciação.
Na quarta etapa, durante o tempo pascal, serão batizados os catequizandos que ainda não tenham sido batizados, porém com toda a devida preparação como sugere o RICA. Assim, no primeiro domingo da Quaresma, deverá acontecer o "rito de acolhida e eleição". No terceiro domingo da Quaresma deverá acontecer o primeiro escrutínio que além da oração de exorcismo, sugerimos que aconteçam também os ritos de assinalação da fronte e dos sentidos. No quarto domingo poderá acontecer o segundo escrutínio, no qual sugerimos acrescentar o rito do "Éfeta". No quinto domingo da Quaresma, o terceiro escrutínio com o rito da unção com o óleo dos catecúmenos. Na Vigília Pascal ou no domingo da Páscoa em torno da comunidade reunida, com a presença dos demais catequizandos, serão batizados os eleitos, com o banho batismal (imersão), de preferência. E no término da quarta etapa, na solenidade de Cristo Rei, todos participarão do banquete Eucarístico pela primeira vez.
Conservando a estrutura e o sentido mistagógico de cada celebração apresentada pelo RICA, é possível adaptá-las de acordo com a realidade de cada comunidade. Unindo os conteúdos refletidos pela catequese e as ações rituais, é possível fazer um caminho de construção participativa inserindo os catequizandos na dinâmica simbólico-ritual da fé cristã e sensibilizando-os a respeito. Com isso, acredita-se que os sinais sensíveis da liturgia, tocarão a mente e o coração dos catequizandos, fazendo-os compreender, visualizar e fazer a experiência do mistério celebrado.
O subsídio do catequizando é constituído apenas de um livro que intitulamos Diário Catequético e Espiritual do Catequizando. Como o próprio nome sugere, é um diário onde o catequizando deverá ser incentivado a relatar sua vivência de fé. Buscando mais uma vez desvincular a catequese das práticas escolares, foi pensado em um "diário", que o catequizando não deve levar para o encontro de catequese. Ele será apenas um material de apoio, complementar. Durante os encontros de catequese, os catequizandos refletirão os temas em nível comunitário e eclesial, e o diário lhes ajudará a meditar qual a sua postura diante do tema em nível pessoal. O Diário está dividido em duas partes:
A primeira parte intitulada "Meus encontros de catequese", consta de dois momentos: "Hora de pensar e registrar meu encontro" e "meu momento de oração diária". No primeiro momento, é proposto um pequeno texto com menção ao tema trabalhado no encontro de catequese levando a uma reflexão pessoal. Ainda uma citação do texto bíblico acompanhado de uma ilustração. Propõe também algumas perguntas e atividades para ajudar os catequizandos a fazerem memória da experiência vivida no encontro, como também para ajudá-los a meditar sobre a temática do encontro ou celebração. No final de cada encontro, tem-se uma página chamada Espaço Complementar com a finalidade de registrar algumas atividades realizadas durante o encontro, como por exemplo: colagens, transcrições de textos, bem como outras possibilidades que o catequista precisar e criar para ajudar os catequizandos a melhor compreenderem cada tema. No segundo momento, propõe-se no Diário que os catequizandos escrevam seus pedidos e intenções de oração da semana. Contêm orientações para o catequizando realizar um momento diário de oração pessoal, que deve ser incentivado pelo catequista constantemente durante os encontros.
A segunda parte do diário é intitulada "Meu Domingo". Composta num primeiro momento por um texto explicativo sobre o domingo e o Ano Litúrgico e um segundo momento que busca incentivar a participação dos catequizandos e seus familiares na Santa Missa. Para isso, apresenta um roteiro para cada domingo em que o catequizando deverá anotar as citações da Liturgia da Palavra, a cor litúrgica usada e uma breve mensagem sobre o que aprendeu ao participar da celebração. No Diário, ainda, o catequizando encontrará algumas orações básicas da vida do cristão. Sugere-se ao catequista orientá-los para que as rezem sozinhos ou com a família. O Diário poderá substituir as "carteirinhas" ou "boletins" existentes em algumas comunidades que o catequizando tem que levar à missa para assinar ou receber o carimbo de comprovação da presença nas celebrações. Por se tratar de um Diário, sua finalidade é ser um instrumento em que o catequizando possa contemplar suas experiências catequéticas e perceber o seu crescimento na fé.
Encontro com as famílias dos catequizandos
"Antes de quaisquer outros, os pais têm obrigação de formar, pela palavra e pelo exemplo, seus filhos na fé e na prática da vida cristã; semelhante obrigação têm aqueles que fazem as vezes dos pais, bem como os padrinhos" (CDC, Cân. 774. § 2). Como bem expresso pelo Código de Direito Canônico e consenso de toda a Igreja, a função primeira dos pais é educar os filhos na fé e, em seguida, a dos padrinhos de batismo é acompanhar e auxiliar os pais nessa árdua missão. Hoje, na catequese, muito se cobra dos pais o protagonismo na iniciação dos filhos, porém é preciso olhar a realidade destas famílias que na sua maioria não foram iniciadas na fé, receberam apenas os sacramentos sem a ?autonomia? e maturidade necessárias para vivê-los. Pois, ninguém pode dar aquilo que não tem (cf. Lc 6,45).
Aproximar as famílias dos catequizandos da vida eclesial tem sido um desafio para a catequese de nosso tempo. Muitos receberam os sacramentos, porém não foram iniciados na fé. A catequese dos filhos surge como uma oportunidade de aproximação de seus pais na descoberta da importância da vivência da fé na comunidade. Diante da experiência vivida pelos catequistas que colocam em prática a proposta dos subsídios "O Caminho", elencamos algumas ações que poderão nos ajudar na missão de ir ao encontro das famílias dos catequizandos: Em primeiro lugar, sugerimos logo após a inscrição dos filhos para a catequese, uma visita do catequista à casa dos futuros catequizandos. Nesta visita, o catequista poderá levar um folder com a proposta do novo modelo catequético, explicando a alteração no calendário tradicional para o Ano Litúrgico, poderá levar ainda a programação com todas as atividades da catequese no decorrer do ano, frisando de modo especial, as atividades em que é fundamental a presença dos pais ou responsáveis: Celebrações da catequese, reuniões, missas dominicais, enfeitar a rua para a solenidade de Corpus Christi etc. Na oportunidade, o catequista poderá conhecer a realidade daquela família e observar quais seus problemas, pois durante os encontros de catequese, muito do comportamento do catequizando, refletirá o que é vivido em seu lar.
As reuniões de pais ou responsáveis devem ser bem-preparadas. Os catequistas deverão aproveitar a oportunidade para catequizar os pais, evitando o discurso moralista e cobranças. Uma oração inicial bem-feita, ritualizada, com um espaço celebrativo organizado, com a proclamação da Palavra e um momento de leitura orante e em seguida a breve partilha de um tema será um rico momento de transmissão da fé. A distribuição de subsídios que incentivem a oração em família e a criação de pequenos oratórios em suas casas, também será um instrumento na evangelização das famílias. Sugerimos ainda, que a família escolha um dia na semana não só para rezarem juntos, mas para estarem juntos! Que os pais se comprometam em chegar cedo do trabalho, que os filhos se organizem com os deveres da escola, para que na hora marcada, todos reunidos, possam rezar, comer, assistir filmes, brincar, enfim que possam ter pelo menos uma noite na semana dedicada a estarem juntos, resgatando os valores das famílias e seu papel na formação dos filhos.
Nos momentos de encontro com as famílias falar da importância de resgatar antigos costumes: pedir benção aos pais, avós e padrinhos, rezar antes das refeições, ensinar a rezar antes de dormir, participar da novena de Natal, entre outros. Nesta missão de inserir as famílias dos catequizandos na vivência da fé, muito poderá nos ajudar a pastoral familiar e os movimentos que trabalham com as famílias: Encontro de casais com Cristo, Equipes de Nossa Senhora, entre outros. Estes poderão propor encontros, reuniões, reflexões, retiros, celebrações e visitas, dando testemunho enquanto família das maravilhas e importância do seguimento de Jesus Cristo.
Muito se fala da importância da catequese e da iniciação dos catecúmenos na fé, e parece haver um consenso da responsabilidade única e exclusiva da Pastoral catequética. Mas não é! Toda a Igreja é chamada a ser discípula missionária, anunciadora da Boa-nova de Jesus Cristo. Diante disso, é de suma importância que toda a Igreja tenha consciência e assuma a corresponsabilidade de ajudar, acompanhar e inserir os catecúmenos e catequizandos na vida eclesial. A proposta metodológica apresentada dá passos neste sentido, envolvendo e animando as comunidades, pastorais, movimentos e associações no processo catequético.
Podemos citar alguns exemplos dentro do itinerário proposto que busca aproximar os grupos e colocá-los em diálogo promovendo uma verdadeira pastoral de conjunto. Primeiramente, a reaproximação entre catequese e liturgia; a inserção de celebrações entre os encontros de catequese que deverão acontecer no dia e horário em que a comunidade local costuma se reunir para suas celebrações e práticas de devoção, fazendo assim com que a comunidade conheça os catequizandos e seus familiares e os mesmos conheçam a comunidade e o trabalho por ela realizado; o incentivo para os catequizandos serem dizimistas proposto na terceira etapa, e que sugere que o dízimo seja entregue na mesa da pastoral do dízimo fazendo com que os catequizandos já criem laços e se tornem futuros dizimistas.
Ainda: a Pastoral Familiar pode assumir a responsabilidade de realizar reuniões com os pais dos catequizandos e o Setor Juventude, ao longo do ano, poderá promover vários encontros com os catequizandos, mostrando o lado jovem e responsável da Igreja. No final da segunda etapa de preparação para a crisma, de acordo com nossa proposta, os catequizandos irão conhecer as diversas realidades de serviços e ministérios da Igreja e serão encaminhados para um estágio, durante toda a terceira etapa da preparação para a crisma, sendo uma maneira de engajá-los na vida eclesial. Assim, poderemos crismar engajados e não crismar para engajar. Neste sentido, todos os grupos (comunidades, pastorais, movimentos) serão responsáveis na educação e amadurecimento da fé de nossos jovens. Apesar da grande dificuldade em promover esse diálogo, há urgência de começarmos a dar passos para de fato sermos uma Igreja unida em sua grande diversidade.